quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Um dia no IPO



Anos 90. IPO – Lisboa

- Mamã?
- Diz meu amor!
- Esqueci-me de te contar uma coisa importante. Esta noite tive um pesadelo horrível.
- Eu sei princesa, a mamã estava aqui e ouviu-te gritar. Transpiravas imenso, a tua frequência cardíaca chegou aos 130 bpm, e a temperatura superou os 40ºC. Estavas a delirar, e só não piorou porque a Enf.ª Júlia te deu um anticonvulsivante. 
- Mamã o que é um anticonvulsivante?
- Quando a tua temperatura está muito alta, o teu cérebro fica destabilizado e a atividade elétrica nos neurónios não funciona corretamente, ficas com tremores e com os músculos contraídos. Existem medicamentos que suprimem estas coisas más. Os anticonvulsivantes ajudam neste sentido. Entendeste princesa?
- Sim. Contigo por perto é sempre mais fácil entender as coisas…
- Mais uma vez o monstro acordou Eva. E tu venceste-o a sorrir! Eu tenho muito medo dele como sabes, mas a tua coragem enche-me o coração todos os dias de uma luz incandescente de esperança…
- Não fiques preocupada mamã. Nós vamos conseguir vence-lo! Por mais cinzento que este quarto se torne, as cores que alegram as nossas vidas irão pinta-lo sempre com boas energias, capazes de destronar os monstros mais ferozes.
Uma lágrima cai no rosto da mãe de Eva.
- Minha princesa, tu és um exemplo para todos! Dás-me a força que eu preciso para te acompanhar na tua luta, quando deveria ser ao contrário. O teu sorriso contagiante deveria aniquilar esse monstro de vez.
- Mamã?
- Sim, Eva.
- Esse beeper que tens contigo, irá apitar quando houver um dador compatível comigo?
- Sim princesa, e é uma forma de comunicar com o médico e ele connosco!
Durante a noite, ouve-se uma voz baixinho:
- Beep, beep, beep…
- Eva? Foste tu?
- Sim… adoro-te mamã!

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