Seguir, e por qual caminho seguir?
A dicotomia intrínseca leva-nos pelos caminhos mais
estreitos e longos. Temos segundos para pensar e escolher qual a tatuagem que
vamos produzir no corpo e mostrar ao mundo a tinta que escolhemos. Um rótulo,
uma fivela cinturada nas costas ou um beijo ruidoso sugando o sangue até à
epiderme. Qual? Qual a marca da existência? Estamos presos à esperança e
pacatez de um silêncio estrepitoso que subtrai minutos à nossa vida, porque
acreditamos piamente que iremos conseguir alcançar aquele sonho, aquela meta,
aquele objetivo tão importante…
O relógio não pára! O tempo reduz-se aos ponteiros
de um objeto para o qual as nossas iris estão constantemente a focar. O
anelante respirar de quem busca chegar ao fim da corrida em primeiro, faz
esquecer por instantes o percurso controverso que ficou para trás.
O relógio não pára! Ziguezagueamos paredes infinitas
e com escadas sem degraus. Trepamos árvores sem ramos, e conquistamos um céu
que não é nosso.
O relógio não pára! O nosso pé ante pé decidido por um autocolante que a vida sorteou sem o nosso consentimento. Mas nós acreditamos, vivemos acreditando na expectativa de sermos aquilo que não fomos.
O relógio não pára!
Parou. O tempo.
A meta está mesmo ali. Por segundos olhamos para o
horizonte cinzento que deixámos na retaguarda. Descalçamos os sapatos, tiramos
as várias máscaras que usámos. Tudo é muito cinéreo. As cores dos sorrisos
ficaram presas às tarefas. Os trevos da sorte plantados para chegar aqui,
secaram. E quem somos nós? Somos aquilo que não fomos. Somos quem não somos.
Vivemos como não deveríamos ter vivido. Uns descontentes focalizados, materiais
de uma vida abstracta e descolorida, capaz de trucidar aqueles momentos
impetuosos, em que quisemos mudar a nossa trajectória à força.
Não fomos felizes, e nisso temos culpa!
nc
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