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quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Viver será também isto.

Tenho consumido instantes em demasia. Noite após noite, com o rocio a seduzir a minha mente com as gotículas minúsculas que atropelam cada folha que me rodeia, observo com fulgor aquela pausa, mágica, que a natureza me oferece. Enquanto as pequenas gotículas formam uma gota maior, uma folha carrega em si minutos de vigor. É tempo de mais digo eu. O instante até que nova gota cresça e espreite o substrato, é suficientemente atroz e inquietante para quem dele espera um bom motivo para uma fotografia. Mas é concomitantemente gracioso para quem o aprecia, e dele bebe o melhor acontecimento do dia, ou da noite. É sinónimo de estar vivo! Estar ali, vivenciar e poder partilhar com o nosso espírito a melodia e essência da vida. Quão feliz seria, se tivesse este acaso todos dias? Tenho consumido instantes em demasia. Daqueles que não interessam para nada e de nada interessam. Sou como que um mortal que está adormecido e de quando em vez renasce ao tom de melodias inolvidáveis, de palavras ociosas que superam qualquer silêncio e de estranhos instantes que condicionem a minha memória para todo o sempre. A vida fará todo o sentido se viajarmos nela com pausas, tal como a pausa do rocio e da gota que se torna, pois que, dentro de cada pausa, cabe uma infinidade de intermitências que podemos mortificar ou vivenciar. Tenho consumido instantes em demasia. Viver cada um deles como se fosse o último, não é a mesma coisa. Prefiro aproveitar cada pausa, porque dela sei que posso refletir sobre as intermitências intrínsecas do instante. Tenho certo que o tempo, esse, não mais parará. Na realidade, comecei a sentir-me vivo quando fui capaz de viver pequenos acontecimentos como este. Estou vivo. Nasci num desses instantes. E espero poder morrer numa dessas pausas.

Nuno Cordas

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

caminhos...



Seguir, e por qual caminho seguir?

A dicotomia intrínseca leva-nos pelos caminhos mais estreitos e longos. Temos segundos para pensar e escolher qual a tatuagem que vamos produzir no corpo e mostrar ao mundo a tinta que escolhemos. Um rótulo, uma fivela cinturada nas costas ou um beijo ruidoso sugando o sangue até à epiderme. Qual? Qual a marca da existência? Estamos presos à esperança e pacatez de um silêncio estrepitoso que subtrai minutos à nossa vida, porque acreditamos piamente que iremos conseguir alcançar aquele sonho, aquela meta, aquele objetivo tão importante…

O relógio não pára! O tempo reduz-se aos ponteiros de um objeto para o qual as nossas iris estão constantemente a focar. O anelante respirar de quem busca chegar ao fim da corrida em primeiro, faz esquecer por instantes o percurso controverso que ficou para trás.

O relógio não pára! Ziguezagueamos paredes infinitas e com escadas sem degraus. Trepamos árvores sem ramos, e conquistamos um céu que não é nosso.

O relógio não pára! O nosso pé ante pé decidido por um autocolante que a vida sorteou sem o nosso consentimento. Mas nós acreditamos, vivemos acreditando na expectativa de sermos aquilo que não fomos.

O relógio não pára!

Parou. O tempo.

A meta está mesmo ali. Por segundos olhamos para o horizonte cinzento que deixámos na retaguarda. Descalçamos os sapatos, tiramos as várias máscaras que usámos. Tudo é muito cinéreo. As cores dos sorrisos ficaram presas às tarefas. Os trevos da sorte plantados para chegar aqui, secaram. E quem somos nós? Somos aquilo que não fomos. Somos quem não somos. Vivemos como não deveríamos ter vivido. Uns descontentes focalizados, materiais de uma vida abstracta e descolorida, capaz de trucidar aqueles momentos impetuosos, em que quisemos mudar a nossa trajectória à força.

Não fomos felizes, e nisso temos culpa!

nc